terça-feira, 6 de agosto de 2013

Gotículas da Graça - A Liturgia do Poder

" Já faz tempo eu vi você na rua, cabelo ao vento, gente jovem reunida.
   Na parede da memória, esta lembrança é o quadro que dói mais.
   Minha dor é perceber, que apesar de termos feito tudo, tudo que fizemos, ainda somos os 
   mesmos e vivemos como os nossos pais"

Ele sofismou e perguntou a si mesmo, ainda que em alta voz, em indisfarçável desejo de despertar compaixão aos ouvintes: " Como conseguir largar o poder sem sofrer "
" Não há como! " ressoou a voz do Oráculo, e mais, disse o sábio em tom fantasmagórico: " Só há uma forma de não sucumbir à nevoa do poder: não o aceitando "

O poder não cega, e tampouco nos torna especial visionário, mas apenas sepulta o romântico, para fazer emergir a expressão mais autentica de nós mesmos.

O poder não aniquila ou aliena, mas sublinha o natural egoísmo e amor por si mesmo, algo herdado de nossos pais, inquilinos despejados do Éden.

O poder não abençoa ou amaldiçoa, mas, apenas, como o boto, hipnotiza sob a promessa de eternidade.

O poder não atrai os maus e transforma malignamente os bons, mas bem ao contrário, ele legitima os autênticos, e liberta os demônios dos inautênticos.

O poder não salva ou condena ninguém, pois ele é inanimado, não sofre fotossíntese, mas como no pôquer, faz do blefe sua maior estratégia, se multiplicando e fortalecendo, como bactéria, em que o hospedeiro é o coração humano, tão ambientado pela fome de si mesmo.

O poder é tão previsível quanto entrevista de jogador de futebol. Ele obedece a mesma lógica, seja Profano ou Sacro; Privado ou Público; Papal ou Protestante, são todos irmãos, filhos de um mesmo pai, gerados nas entranhas da vontade humana, que tem o coração como cálido ambiente, fonte de todo erro e corrupção.