sexta-feira, 14 de junho de 2013

Gotículas da Graça - Tolerando a intolerância


 Cresci ao lado de multiplicidade de religiões. Não tive, como meus filhos, o doce privilégio de ser abençoado com uma bela e fervorosa oração logo nas primeiras horas de vida, mas bem ao contrário, sou filho de um lar tão sincrético que somente em uma casa bailavam ao menos cinco credos: catolicismo, umbandismo, espiritismo, marxismo e ceticismo.
Sou calvinista antes mesmo de saber, pois não há outra explicação que não seja a eleição divina para dar conta de minha conversão e chamado ao ministério da palavra, em meio a tal babel cultural e religiosa.
Sou muito grato a Deus por fazer parte da Comissão Contra a Intolerância religiosa - CCIR, pois tenho a oportunidade de vivenciar junto a pessoas tão diferentes de mim e de credos tão antagônicos, um pouco da graça de Deus que está em busca de todos e de qualquer um, uma vez revelada em Cristo Jesus: o Caminho, a Verdade e a Vida. 
É compreensível o reducionismo que sofro ao ser acusado de alinhamento com os religiosos de matriz africana, pois fomos habituados, educados e formados para rejeitá-los, discriminá-los e mantê-los afastados, de tal forma que se alguém evangélico nutri relacionamento com esses SERES HUMANOS, alguma coisa está errada com esse tal religioso.
Gostaria que fosse mentira, o que vou narrar, mas não é.
Presenciei um pastor, de não pouco destaque entre os evangélicos do Rio de Janeiro,  que se recusou a cumprimentar uma religiosa da umbanda, que tomou assento conosco em uma mesa de debate. O inquiri de seu procedimento, diante do que, disse sem o mínimo constrangimento: " não toco o corpo de alguém que serve o diabo".
Meus filhos até o final do primeiro grau estudaram em escola de orientação romana, e mesmo que, na condição de evangélico tivesse o direito de dispensá-los das aulas de religião, eles frequentaram todos os anos como ocorria com os alunos católicos, pois achava fundamental que aprendessem, desde criança, ao menos, respeitarem e compreenderem a importância da religião de seu próximo, ainda que fossem discordantes.
Recentemente missionários brasileiros foram caluniados, injuriados e presos no Senegal e houve competente ação da Igreja Presbiteriana junto ao governo senegalês que, após um longo período, conseguiu a soltura dos missionários.
O curioso é que nenhum de nós teve dúvidas em compreender que a intolerância é fruto de uma sociedade em regime de exceção, alimentada pela ignorância e fundamentalismo, e que a liberdade religiosa serve, infelizmente a proliferação de credos com os quais discordamos, mas também dá ao evangelho a liberdade para ser semeado a tempo e hora, permitindo que ele frutifique em progressão geométrica.
Não há outro jeito, devemos tolerar a intolerância, mas bom seria que houvesse respeito e compreensão, ainda que continuássemos a pregar nosso Cristo, que é o único caminho para se chegar ao Pai.